terça-feira, 31 de maio de 2011

Crítica sobre a Lira dos Vinte Anos

Machado de Assis : “Se excetuarmos as poesias e os poemas humorísticos, o autor da Lira dos Vinte Anos raras vezes escreve uma página que não denuncie a inspiração melancólica, uma saudade indefinida, uma vaga aspiração. Os belos versos que deixou impressionam profundamente; “Virgem Morta”, “À Minha Mãe”, “Saudades”, são completas neste gênero. Qualquer que fosse a situação daquele espírito, não há dúvida nenhuma que a expressão desses versos é sincera e real. O pressentimento da morte, que Azevedo exprimiu em uma poesia extremamente popularizada, aparecia de quando em quando em todos os seus cantos, como um eco interior, menos um desejo que uma profecia. Que poesia e que sentimento nessas melancólicas estrofes!”

Mario de Andrade : “Amor e Medo”  Aspectos da Literatura Brasileira
“A obra de Álvares de Azevedo é toda de divulgação póstuma. Maneco mal teve tempo de escrevê-la, quanto mais de organizá-la para publicação. Na Primeira Parte de Lira dos Vinte Anos predomina a poesia mais sentimental, o devaneio do primeiro Byron e de Musset. Pontificam o medo de amar, o desejo vago por virgens intangíveis, o sentimento de culpa frente aos desejos carnais e o fascínio com a morte. Trata-se de uma poesia de seres imaginários e idéias abstratas vagando na noite enevoada. Na Segunda Parte de Lira dos Vinte Anos, Álvares de Azevedo envereda por um romantismo irônico e sarcástico. Sem abandonar os temas do amor e da morte, representados sempre sob o manto da noite sombria, passa agora a “falar com coisas” (para usar o termo de João Cabral de Melo Neto) – a poetizar os objetos que o rodeiam. Vai agora, em processo claramente metalingüístico, dia-logar ironicamente com os grandes autores do romantismo. Escreve sobre os charutos, sobre uma queda de cavalo (intuição?), sobre o dinheiro (ou a falta deste), em suma, sobre temas corriqueiros que não cabiam na poesia onírica e sentimental da Primeira Parte. Consciente da mudança, deixou-nos um Prefácio a esta parte que explica detalhadamente esta trans-formação. Leia-o atentamente. As notas procuram explicar detalhadamente as inúmeras referências que aparecem ao longo do texto.”

Samuel Shiguemoto : “A poesia é de certo uma loucura”

A Lira dos Vinte Anos compõe-se do que há de melhor na produção de Álvares de Azevedo. Estruturalmente divide-se em três partes ; mas do ponto de vista temático, em apenas duas. Por quê?
A primeira e terceira partes têm temas assemelhados: a morte, a família, os temas da adolescência, o sonho, a religiosidade, a forma feminina como obsessão; a segunda parte, no entanto, traz o irônico, o “satânico”, a mulher, ainda que em sonho, aproximada do erótico, carnal.”

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